Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. (Marcos 12.30-31)
As primeiras palavras deste artigo se iniciaram de uma reflexão pura e simples dos versículos 30 e 31 do capítulo 12 do Evangelho de Marcos. A minha reflexão dava conta até então, tão somente de uma palavra, a saber, "mandamento". Por tudo que conhecemos como mandamento, pelo censo comum, dá-se a esta palavra uma conotação autoritária e negativista. O mandamento nos remete a Lei ou aos Dez Mandamentos. Para muitos estes dez mandamentos, por exemplo, soam como uma imposição rigorosa e irreversível da ordem divina, sem qualquer chance de defesa ou questionamento.
A minha reflexão não se limitou a enxergar a Lei, ou os mandamentos somente pela ótica de seu lado autoritário e negativo, que se faz presente por meio das lembranças dos fariseus e saduceus, ou dos senhores de escravo e banqueiros oportunistas, juízes comprados e advogados especialistas em crime. De fato, a Lei ou Mandamento, são do ponto de vista social, um instrumento importante para dar parâmetros às diversas atividades humanas, garantindo a ordem social e coletiva. Cumpre-se por meio da Lei aquilo que julgamos como deveres e direitos de cidadãos, pelo menos na sua constituição teórica. Do ponto de vista jurídico a Lei ou Mandamento, são os balizadores para se fazer justiça, e só se faz "justiça" balizados em tais leis e mandamentos, mesmo que a sentença ou condenação não pareça ser tão justa assim.
O fato é que agora abrimos uma possibilidade bem mais agradável para pensarmos o ensino de Jesus Cristo nesta passagem bíblica de Marcos 12.30-31. Percebemos que aqui há o dever, mediante a uma Lei, de amar ao Senhor nosso Deus de todo o coração, e de toda a alma, e de todo o entendimento, e de todas as forças; este é o primeiro mandamento e de maior intensidade, e em seguida, não menos importante, amar ao próximo como a nós mesmos. Não há outro mandamento maior do que estes. (Marcos 12.30-31 - com ênfase minha)
Assim como temos o dever, recebemos o direito inerente ao cumprimento desta Lei. Temos não só a possibilidade de ser amados, mais o direito adquirido de recebermos o amor de Deus. Em João 3.16, vemos o nosso direito sendo cumprido, da forma mais intensa e literal quando diz.:Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3.16).
Também, há que se pensar na medida em que se refere a amar ao próximo. Esta questão é aparentemente mais difícil, em especial quando analisados pontos relacionais convergentes, questões duvidosas, orgulho próprio, diferenças socioeconômicas, étnicas e religiosas.
O EXEMPLO DE DAVI !!!
Porém, quando a enxergamos pelo prisma do contato físico e relacional, pela possibilidade de se conviver e quebrar barreiras de preconceitos, quando como Davi percebe mais que um inimigo em Saul, na ocasião de En-Gedi, na caverna aparente desonra para Saul devido às circunstâncias que o levaram a caverna, e a sua aparente morte. Davi resolve amar a Saul, como a si mesmo. Ao invés de desonra, a honra, ao invés de morte a vida. Após a saída de Saul do lugar de alívio, a certa distância ele escuta um grito amoroso: “Ó rei, meu senhor!” (I Samuel 24.8).
Em poucas palavras, o futuro "rei judeu" (ênfase na nomenclatura "rei judeu", a fim de definir que Davi, sendo judeu se demonstrou cristão sem haver existido o cristianismo até então) Davi, aquele que era a sombra da imagem de Cristo, demonstra amor ao próximo da maneira mais cristã que se pudesse imaginar. A história se desdobra de maneira relativamente emocionante, e embora Saul não deixa-se de perseguir a Davi, este fato tocou-lhe o coração. Com essa história, percebe-se que amar ao próximo, mesmo que ele seja o teu opressor, é mais fácil, por conta da possibilidade de ver ou tocar esta pessoa. Pelos fatores históricos e de convivência envolvidos.O que quero dizer, é que quando falamos em amar a Deus, falamos também de fé, de crença. Sem a fé, que ele existe e é um Pai amoroso, um Senhor cuidadoso, Justo juiz e um Rei Soberano, entre outros adjetivos, não é possível ama-lo. Para amar a Deus é preciso crer em Deus. E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele, dizia o apostolo João (I João 4.16). E como crer em algo que eu não posso ver ou tocar? Somente amando a Ele incondicionalmente, e baseado em sua palavra. Embora não o possamos ver e tocar, somos vistos por Ele e tocados por Ele na medida em que o amamos. Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro (I João 4.19)
É exatamente por esse motivo que o mandamento descreve não somente que devemos amar-lo, a lei nos fornece às características deste amor: amar de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças.
O coração fala de intensidade, a alma fala de sentimentos e emoções, o entendimento fala de intelecto, pensamentos e as tuas forças falam do físico, corporal. E não foi assim que Cristo se entregou por nós? Ele, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, se entregou de coração, intensamente, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens, usando todas as suas forças, entregando seu próprio corpo; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, entregando-se de alma, suas emoções, sendo injustiçado, e com entendimento sendo obediente até à morte, e morte de cruz. ( Filipenses 2.6-8 - paráfrase e ênfase minha)Esta foi a demonstração de Deus, na pessoa de Cristo, no cumprimento do nosso direito de sermos amados.
O direito de sermos amados, não tem relação com o favor imerecido, a Graça. Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só (Romanos 3.10-12). Assim é a condição daqueles que não conhecem a Deus, e não receberam a Cristo como Senhor e Salvador.
Porém, ainda assim, mesmo sem merecer os que perecem e os que já saíram das trevas para a Luz, recebem a Graça de Deus, embora não tenhamos direito pelo que somos ou éramos, recebemos o favor imerecido. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus(Romanos 3.23.24).A Graça nos remete a salvação, por que importa que todos se salvem, disse Paulo a Timóteo, e mais pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." (Efésios 2 : 8)
A uma revelação maravilhosa que recebemos por meio de João e é que, quando professamos o Cristo como nosso Senhor e Salvador, único e suficiente, e passamos a viver em seu caminho, somos nascidos de novo, e isto implica em um dever e em um direito: o amor.
O direito adquirido do amor nos é dado de forma indistinta e irrestrita na pessoa de Cristo, quando nEle somos novamente gerados. O apóstolo do amor, João, diz: Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido (I João 5.1). Como nascidos de Deus, em Jesus Cristo, pela nova aliança temos direito a uma herança de amor. Deus nos dá o direito de sermos por Ele amados, e espera que cumpramos com o direito dEle de ser amado.
AMANDO NOSSOS INIMIGOS...
O Pr. “Silas Malafaia trouxe uma definição interessante em sua mensagem “Jesus Vem”, dizendo:” O Amor é uma decisão da vontade. Você decide amar alguém “- como vemos durante todo nosso estudo, o amor é um mandamento. Jesus trouxe a luz a importância fundamental deste mandamento para a vida cristã. Porém o mandamento você decide ou não obedecer.
Jesus Cristo, quando questionado por um doutor da lei, sobre quem é o próximo, traz a tona uma grande realidade. O homem ama muito a si mesmo, e pouco age para demonstrar uma dose desse amor ao próximo.
Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.Há um amor interesseiro e meio a comunidade cristã. É muito bom amar o irmão perfumado. É muito bom amar o irmão rico e influente. Ou a irmã que se veste bem e é muito discreta. Porém, as pessoas com quem mais convivemos são pobres, pouco instruídas e em alguns casos tem inúmeras duvidas e problemas para nos contar. Do ponto de vista do comodismo, são até mesmo inconvenientes.
Num domingo destes passados, me recordo de um jovem, que chegou à igreja totalmente transtornada, alucinada pelas drogas. Não tinha o olhar fixo, exalava o cheiro da droga. Estava com muita raiva de si mesmo e dos outros. Naquele momento inicial, percebi em mim certa repudia, talvez o medo de um assalto? Ou uma reação na medida em que recebemos da nossa formação social?
Mais fui pego de surpresa pelo Espírito Santo, e o convidei para ficar, orei com ele, passei alguns minutos ouvindo o seu confuso desabafo, e durante o culto (no qual ele não ficou), chorei me lembrando do amor Cristo por mim e por este jovem.
Foi com estes, que Cristo despendeu mais tempo. Cegos, surdos, paralíticos, endemoniados, mulheres fluxo de sangue ou adulteras, ladrões e publicanos, a escoria da sociedade da sua época. E a esses Ele amou. Amou a Mateus fornicário, publicano. Amou a João Filho do Trovão. Amor a Pedro rude pescador, que titubeava entre a lealdade ao mestre e o orgulho próprio. Amou, Amou, Amou.
O amor ao próximo nos moldes de Cristo da conta de que qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. (Marcos 10.43-45)
Se nos parece difícil este padrão, vejamos a orientação de Cristo em Mateus 5.44, Jesus diz: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Para alguns um mandamento pesado e injusto, para Deus a demonstração de uma herança espiritual dos filhos de Deus.
O amor para com os outros, expressa o verdadeiro fundamento do cristianismo. Cristianismo sem amor, é religiosidade. João diz : Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor ( I João 4.7-12). Concluímos que precisamos cumprir o direito do nosso próximo, para que o nosso direito seja cumprido.
Portanto, tenhamos em nosso coração e mente: há um dever a ser cumprido por nós, que nos dá também o um direito a ser cumprido, a saber: o Amor.
No amor de Cristo,
Pr. Douglas Tadeu Faro é, casado com Denise e pai de Rebecca Vitória, e esta à frente do Ministério Pastoral da Comunidade de Vidas Restauradas, desde 2008.

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